Queridos e queridas, saudades! Aproveito aqui a pausa para o almoço pra me comunicar com vocês e agradecer todo o carinho comigo nesses meus dias de luto. Estamos todos recomeçando. Já temos um novo Vigário Geral e as lembranças alegres dos momentos tantos que partilhamos nos animam.
Sabe, pensando na vida de padre Maurício, que nada tinha, tudo partilhava e doava aos menos favorecidos e em tantas coisas que vemos no nosso dia-a-dia, lembrei de um fato que chamou minha atenção no início do ano. Por ocasião das chuvas que caíram na Região Serrana do Rio, muitas pessoas se mobilizaram com doações para os desabrigados. Certo dia ao entrar na internet me deparei com uma notícia estarrecedora. Digo esterrecedora porque muitas vezes, na nossa inocência, achamos que todas as pessoas são boas, solidárias, éticas, justas. A vida não é assim não, infelizmente. A notícia mostrava as doações impróprias para os desabrigados. Sim impróprias, nem sei se deveria usar esse adjetivo, mas nessa correria não consigo encontrar outro e não ser indelicada com quem lê esse blog. Explico: pessoas haviam doados brinquedos estragados, bonecas sem cabeças, fraldas sujas e roupas rasgadas. Fiquei pasma! Acho que dessa forma as pessoas acabam por revelar o desprezo e a indiferença que têm com a dor do outro, com o sofrimento de quem está ao seu lado. Foi preciso a coordenação da campanha anunciar que precisavam de roupas e brinquedos sim, porém em bom estado. Aqui no Espírito Santo, também numa época de chuvas de um janeiro desses a Defesa Civil precisou anunciar que as pessoas precisavam de muitas coisas, inclusive de roupas íntimas, mas que essas deveriam ser entregues limpas.
Na época alguém perguntou: mas há quem doe roupas sujas? Sim há quem doe roupas sujas, rasgadas, podres. Peço perdão a quem discorda, mas quando vejo uma pessoa brigando, xingando uma criança que ao pedir na sua casa algo para comer, recebeu pão cheio de bolô e duro e decidiu jogar fora, fico indignada. Se não serve para os meus filhos comerem como pode servir para os dos outros?Há quem doe o que não lhe serve nem para pano de chão porque cada um doa o que tem, não o que tem em casa, na sua dispensa, no seus armários, cada um doa o que tem no coração.
Hoje recebi uma doação de carinho, de afeto. Recebi uma doação de um coração que transborda em ternura e amizade. Alguém que está há quilômetros de distãncia mas mantém comigo, sem pedir nada em troca, uma relação fraterna. Recebi um conto de presente da minha amiga Glorinha do Café com Bolo. E ao agradecê-la, num comentário, escrevi assim:
"Ai meu Deus!!Quase tenho um troço aqui gente. Fui ler os comentários no meu blog e leio que alguém fez homenagem a minha pessoa...Que isso??Tô acostumada com isso não gente. Sou uma bibliotecária quieta, discreta, silenciosa na maioria das vezes... Mas Glorinha é Glorinha, essa mulher que transforma palavras em poemas, que transforma pingos e pontos em presentes. Assim ganhei esse presente hoje. E olha que esses dias, com o falecimento do meu amigo estou tão triste e além do mais com muito trabalho atrasado. Os livros rebeldes para domar, limpar, higienizar, guardar. As palavras presas na garganta que precisam sair e cair direto no papel ou na tela do computador, para ser mais moderna. Meu artigo para a coluna Arquivo e Memória, que escrevo mensalmente para Revista Vitória, está atrasadíssimo. Por isso não entrei no blog ontem, não comentei nos blogs dos amigos. Culpa das palavas, sejam as dos livros que precisam ser guardadas e preservadas, sejam as minhas que precisam sair como num parto difícil. Glorinha amiga, cada dia me apaixono mais por você. O que farei eu com tanto amor? Amor fraterno é claro, mas amor forte e verdadeiro, daqueles que a gente guarda quietinho até o dia de encontrar quem o queira ou mereça. Bjs querida"
E assim a gente ganha o dia...